domingo, outubro 28, 2007

Cansaço

Happy Hour (C) Bruno Pacheco


O que há em mim é sobretudo cansaço 
Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
 Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço… 

 (Álvaro de Campos)

segunda-feira, setembro 24, 2007

(des) esperança



Confesso que ainda te amo. Por isso criei esse espaço, para te falar de mim como se aqui ainda pudesses escutar o meu coração. Sempre pensei que amar era tudo o que eu precisava para ser feliz, mas sabes tão bem como eu que amar não chega. E depois, quando amamos, temos de fazer alguma coisa com o nosso amor quando já não somos mais amados, mesmo que seja coleccionar canções, poemas, imagens e tudo o que nos traga migalhas de esperança. Em vão... Se há algo que nada tem a ver com o amor é a esperança. A esperança mata lentamente o pouco de nós que resiste ao abandono. Há-de chegar o momento em que uma sensação definitiva de vazio me desperte para uma vida onde tu já não existes. Nem o teu nome, nem o teu sorriso, nem o teu olhar significarão mais nada. Então o amor terá simplesmente acabado da mesma forma como começou, por mero acaso, no momento em que olhei para ti. Tem de ser assim, porque não pode ser de outra forma. Nenhuma esperança poderá reacender em ti a chama, porque já vives nessa outra vida em que eu já não sou e já não estou. Mas nada do que faças poderá matar o meu amor por ti. O teu desprezo, a tua indiferença, a tua frieza, servem apenas para me dar razões para não te amar, mas não para deixar de te amar. O amor é meu, e não tens esse poder.

sábado, maio 26, 2007

Não te aflijas


(Flowers, Robert Mapplethorpe) 

Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim. 
Rosas verá, só de cinzas franzida, mortas, intactas pelo teu jardim.
 Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim.
 E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim. 

 (c) Cecília Meireles

domingo, maio 13, 2007

Você não sabe...



Num apartamento perdido na cidade, alguém está tentando acreditar 
que as coisas vão melhorar ultimamente. 
A gente não consegue ficar indiferente debaixo desse céu 
No meu apartamento você não sabe o quanto voei, 
o quanto me aproximei de lá da Terra 
As luzes da cidade não chegam as estrelas sem antes me buscar. 
Na medida do impossível tá dando pra se viver. 
Na cidade de Lisboa, o amor é imprevisível como você e eu e o céu. 

(Rita Lee)

quinta-feira, maio 03, 2007

Patético



Desconheço o que o amanhã anunciará. Todavia continuo a enviar cartas patéticas. Porém não as escrever seria absurdo. Palavras e pensamentos encarcerados são um veneno oculto. Podem induzir um coma de antecipação. Resta-me apenas celebrar as minhas fraquezas. Já que meditar nas cogitações da vida é absolutamente fútil.

terça-feira, maio 01, 2007

Uma nódoa do passado...



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces... 
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto... 
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida... 
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto... 
E em minha voz, a tua voz... 
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado... 
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados... 
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada... 
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado... 
Eu deixarei...
Tu irás e encostarás tua face em outra face... 
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada... 
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite... 
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa... 
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço 
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. 
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos 
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir. 
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas, serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada. 

 (Vinícius de Moraes in "Ausência")

sexta-feira, abril 27, 2007

Doce presença



Sei que mudamos desde o dia em que nos vimos 
li nos teus olhos que escondiam meu destino luz tão intensa, 
a mais doce presença no universo desse meu olhar 
 nós descobrimos nossos sonhos esquecidos e aí ficamos 
cada vez mais parecidos mais convencidos, 
quanto tempo perdido no universo desse meu olhar 
como te perder ou tentar te esquecer 
ainda mais que agora sei que somos iguais 
e se duvidares, tens as minhas digitais 
como esse amor pode ter fim 
já tens meu corpo, minha alma, meus desejos 
se olhar pra ti, estou olhando para mim mesmo
fim da procura tenho fé na loucura 
de acreditar que sempre estás em mim 

 (Vítor Martins-Ivan Lins)

domingo, abril 22, 2007

Palabras




Esta noche al oído me has dicho dos palabras 
Comunes. 
Dos palabras cansadas 
De ser dichas. Palabras 
Que de viejas son nuevas. 
Dos palabras tan dulces que la luna que andaba 
Filtrando entre las rama 
Se detuvo en mi boca. 
Tan dulces dos palabras 
Que una hormiga pasea por mi cuello y no intento 
Moverme para echarla. 
Tan dulces dos palabras - Que digo sin quererlo - 
¡oh, qué bella, la vida!
Tan dulces y tan mansas 
Que aceites olorosos sobre el cuerpo derraman. 
Tan dulces y tan bellas 
Que nerviosos, mis dedos, 
Se mueven hacia el cielo imitando tijeras. 
Oh, mis dedos quisieran 
Cortar estrellas. 

 (Alfonsina Stormi)

sábado, abril 21, 2007

Prá lhe dizer que isso é pecado





Já conheço os passos dessa estrada 
Sei que não vai dar em nada
 Seus segredos sei de cor 
Já conheço as pedras do caminho 
E sei também que ali sozinho 
Eu vou ficar tanto pior 
O que é que eu posso contra o encanto 
Desse amor que eu nego tanto, evito tanto 
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar 
Com seus mesmos tristes velhos fatos 
Que num álbum de retrato eu teimo em colecionar 
Lá vou eu de novo feito um tolo, 
Procurar o desconsolo 
Que eu cansei de conhecer 
Novos dias tristes, 
Noites claras, versos, cartas 
Minha cara, ainda volto a lhe escrever 
Pra lhe dizer que isso é pecado 
Eu trago o peito tão marcado 
De lembranças do passado 
E você sabe a razão 
Vou colecionar mais um soneto 
Outro retrato em branco e preto 
A maltratar meu coração 

(c) Tom Jobim e Chico Buarque in "Retrato em Branco e Preto"

quarta-feira, abril 18, 2007

Perdoar e Esperar



Ainda em desamor, tempo de amor será. 
Seu tempo e contratempo. 
Nascendo espesso como um arvoredo 
E como tudo que nasce, morerendo à medida que o tempo nos desgasta. 
Amor, o que renasce. 
Voltando sempre. 
Docilmente sábio 
Porque na suavidade nos convence 
A perdoar e esperar. 
Em vida. Em paz. 

 (c) Hilda Hilst

segunda-feira, abril 02, 2007

Quanta traição existe...



Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço 
em que de penetrar-te me senti perdido 
no ter-te para sempre 
Quanto de ter-te me possui em tudo o que eu deseje 
ou veja não pensando em ti no abraço a que me entrego 
Quanto de entrega é como um rosto aberto, 
sem olhos e sem boca, 
só expressão dorida de quem é como a morte 
Quanto de morte recebi de ti, 
na pura perda de possuir-te em vão de amor que nos traiu 
Quanta traição existe em possuir-se a gente 
sem conhecer que o corpo não conhece mais que o sentir-se noutro 
Quanto sentir-te e me sentires não foi senão o encontro eterno 
que nenhuma imagem jamais separará... 

(c) Jorge de Sena, in Visão Perpétua

quarta-feira, março 21, 2007

Palavras são palavras

Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser
E de dizer coisas que podem magoar e te ofender
Mas cada um tem o seu jeito todo próprio de amar
E de se defender
Você me acusa e só me preocupa
Agrava mais e mais a minha culpa
E eu faço e desfaço, contra feito
O meu defeito é te amar demais.
Palavras são palavras
E a gente nem percebe
O que disse sem querer
E o que deixou pra depois
Mas o importante é perceber
Que a nossa vida em comum
Depende só e unicamente de nós dois
Eu tento achar um jeito pra explicar
Você bem que podia me aceitar
Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser
Mas é assim que eu sei te amar

(Isolda/Milton Carlos)

segunda-feira, março 19, 2007

Um tempo de te amar





Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente 
Preciso conduzir um tempo de te amar 
Te amando devagar e urgentemente 
Pretendo descobrir no último momento 
Um tempo que refaz o que desfez 
Que recolhe todo sentimento, 
e bota no corpo uma outra vez 
Prometo te querer, até o amor cair doente 
Prefiro então partir a tempo de poder 
A gente se desvencilhar da gente 
Depois de te perder, 
te encontro com certeza 
Talvez no tempo da delicadeza 
Onde não diremos nada, nada aconteceu 
Apenas seguirei como encantado ao lado teu 

(c) Cristovão Bastos/Chico Buarque in "Todo Sentimento"

segunda-feira, março 12, 2007

Amor, meu grande amor

Amor, meu grande amor 
Não chegue na hora marcada 
Amor, meu grande amor 
Me chegue assim bem de repente 
Sem nome ou sobrenome 
Sem sentir o que não sente ... 
Amor, meu grande amor 
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser 
Que seja de qualquer maneira 
Enquanto me tiver 
Que eu seja a última e a primeira 
E quando eu te encontrar, meu grande amor 
Me reconheça ... 
Amor, meu grande amor 
Que eu seja a última e a primeira 
E quando eu te encontrar, meu grande amor 
Por favor, me reconheça 

(Ângela Rô Rô, in "Amor, meu grande amor")

segunda-feira, março 05, 2007

Metade


Que a força do medo que eu tenho, 
não me impeça de ver o que anseio 
Porque metade de mim é o que eu grito, 
mas a outra metade é silêncio... 

(...) 

Que essa minha vontade de ir embora 
se transforme na calma e na paz que eu mereço 
E que essa tensão que me corrói por dentro 
seja um dia recompensada 
Porque metade de mim é o que eu penso 
mas a outra metade é um vulcão 

(...) 

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
 para me fazer aquietar o espírito 
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, 
e a outra metade eu não sei 

(...) 

E que o teu silêncio me fale cada vez mais 
Porque metade de mim é abrigo, 
mas a outra metade é cansaço 

(...) 

E que a minha loucura seja perdoada, 
Porque metade de mim é amor, 
e a outra metade...também... 

 (Oswaldo Montenegro, in “Metade”)


sexta-feira, março 02, 2007

Amor e Sexo

Amor é um livro, sexo é esporte
Sexo é escolha, amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela, sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa, sexo é poesia
O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos
Amor é cristão, sexo é pagão
Amor é latifúndio, sexo é invasão
Amor é divino, sexo é animal
Amor é bossa nova, sexo é carnaval
Amor é para sempre, sexo também
Sexo é do bom, amor é do bem
Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade
Amor é um, sexo é dois
Sexo antes, amor depois
Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora
Amor é isso, sexo é aquilo
E coisa e tal, e tal e coisa...
Ai, o amor...Hum, o sexo...
(Rita Lee)

quinta-feira, março 01, 2007

Um Amor Impossível



Amanhã
este fogo cresce.
Amanhã, tremor
Amanhã, suspiro.
Insiste
um amor impossível
amanhã.
Insiste, sim.
Um amor impossível
pode ser amanhã.


(Angela Melim)

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Pour Toi


Notre vie est divisée, et comme distribuée dans une balance, en deux plateaux opposés où elle tient tout entière. Dans l'un, il y a notre désir de ne pas déplaire, de ne pas paraître trop humble à l'être que nous aimons sans parvenir à le comprendre, mais que nous trouvons plus habile de laisser un peu de côté pour qu'il n'ait pas ce sentiment de se croire indispensable, qui le détournerait de nous; de l'autre côté il y a une souffrance - non pas une souffrance localisée et partielle - qui ne pourrait au contraire être apaisée que si, renonçant au plaisir de plaire à cette femme et à lui faire croire que nous pouvons nous passer d'elle, nous allions la retrouver. Qu'on retire du plateau où est la fierté une petite quantité de volonté qu'on a eu la faiblesse de laisser s'user avec l'âge, qu'on ajoute dans le plateau où est le chagrin une souffrance physique acquise et à qui on a permis de s'aggraver, et au lieu de la solution courageuse qui l'aurait emporté à vingt ans, c'est l'autre, devenue trop lourde et sans assez de contre-poids, qui nous abaisse à cinquante.

(Marcel Proust)

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Par délicatesse




Oisive jeunesse 
A tout asservie, 
Par délicatesse 
J'ai perdu ma vie. 

(c) Rimbaud, in CHANSON DE LA PLUS HAUTE TOUR

sábado, fevereiro 10, 2007

My Perfect Valentine's Day



Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela 
Não pode ser, diz-lhe numa prece 
Que ela regresse, porque eu não posso 
Mais sofrer. Chega de saudade a realidade 
É que sem ela não há paz, não há beleza 
É só tristeza e a melancolia 
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai 
 Mas se ela voltar, se ela voltar, 
Que coisa linda, que coisa louca 
Pois há menos peixinhos a nadar no mar 
Do que os beijinhos que eu darei 
Na sua boca, dentro dos meus braços 
Os abraços hão de ser, milhões de abraços 
Apertado assim, colado assim, calado assim 
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim 
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim. 
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...

(Tom Jobim, Chega de Saudade)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Magic Kingdon Club

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu era feliz e ninguém estava morto. 
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, 
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. ... 
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, 
De ser inteligente para entre a família, 
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. ... 
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos, 
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! 
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, 
Por uma viagem metafísica e carnal, 
Com uma dualidade de eu para mim... 

 Fernando Pessoa (Álvaro de Campos),in Aniversário

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Gosto de Nova Iorque


Gosto de frio 
Não gosto de chuva 
Gosto de iogurte 
Não gosto de nata 
Gosto de pera 
Não gosto de beterraba 
Gosto de verde 
Não gosto de amarelo 
Gosto do campo na primavera 
Não gosto da praia no verão 
Gosto de fotografia 
Não gosto de instalação 
Gosto de cães e de gatos
Não gosto de cobras e ratos 
Gosto de viajar 
Não gosto de ficar 
Gosto da noite 
Não gosto da tarde 
Gosto de arquitectura 
Não gosto de casas de azulejo 
Gosto da Beira Alta 
Não gosto da Beira Baixa 
Gosto do Pap’açorda 
Não gosto da bica do sapato 
Gosto de música clássica 
Não gosto de heavy metal 
Gosto de hotéis 
Não gosto de acampamentos 
Gosto de pintura 
Não gosto de banda desenhada 
Gosto do Sagres
Não gosto de Albufeira
Gosto de futebol 
Não gosto de hóquei em patins 
Gosto de ler 
Não gosto de estudar 
Gosto de edredon 
Não gosto de cobertor 
Gosto do Alentejo 
Não gosto do Ribatejo 
Gosto da Cindy Sherman 
Não gosto da Sophie Calle 
Gosto de São Paulo 
Não gosto do Rio 
Gosto de poesia 
Não gosto de biografia 
Gosto de uísque 
Não gosto de rum 
Gosto de queijo 
Não gosto de patê 
Gosto de cinema 
Não gosto de vídeoclipe 
Gosto de criança 
Não gosto de adolescente 
Gosto da Meryl Streep 
Não gosto da Scarlett Johansson 
Gosto de Mozart 
Não gosto de Wagner 
Gosto de comboio 
Não gosto de autocarro 
Gosto de jeans 
Não gosto de saia 
Gosto de café 
Não gosto de tisanas 
Gosto do Paul Auster 
Não gosto do Lobo Antunes 
Gosto de pipocas 
Não gosto de rebuçados 
Gosto de jogar gamão 
Não gosto de jogar bridge 
Gosto de guiar 
Não gosto de ir ao lado 
Gosto de rir 
Não gosto de fingir 
Gosto de plantas 
Não gosto de bibelots 
Gosto de jantar fora 
Não gosto de casamentos 
Gosto de beijo 
Não gosto de qualquer beijo 
Gosto de vinho tinto 
Não gosto de vinho branco 
Gosto de havaianas 
Não gosto de saltos altos 
Gosto de Milão 
Não gosto de Turim 
Gosto do cheiro de terra húmida 
Não gosto de cheiro de igreja 
Gosto do Caetano 
Não gosto da Bethânia 
Gosto de tulipas 
Não gosto de margaridas 
Gosto de lareira 
Não gosto de salamandras 
Gosto do Rodrigo Leão 
Não gosto do Rui Veloso 
Gosto do mar do Porto Santo 
Não gosto do mar do Guincho 
Gosto de Astrologia 
Não gosto de Tarot 
Gosto de Nova Iorque 
Não gosto de Kuala Lumpur 
Gosto da neve 
Não gosto de calor 
Gosto de política 
Não gosto de concursos 
Gosto de bossa nova 
Não gosto de carnaval 
Gosto de escrever 
Não gosto de e-mails 
Gosto de massagem 
Não gosto de sauna 
Gosto de sardinhas assadas 
Não gosto de peixe frito 
Gosto da Dulce Pontes 
Não gosto da Mariza 
Gosto de andar 
Não gosto de correr 
Gosto de silêncio 
Não gosto de confusão 
Gosto dos meus amigos 
Não gosto quando não são
 Gosto de gostar 
Não gosto quando não gosto 
Gosto de ti 
Não gosto de ti...

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Um outro azul



Blue, blue, my world is blue; 
Blue is my world now 
I'm without you; 
Gray, gray, my life is gray; 
Cold is my heart since you went away. 
 Red, red, my eyes are red 
Crying for you alone in my bed 
Green, green, my jealous heart 
I doubted you and now we're apart 
 When we met how the bright sun shone 
Then love died, now the rainbow is gone 
 Black, black, the nights I've known 
Longing for you so lost and alone 
 Blue, blue, my world is blue; 
Blue is my world now I'm without you.


Words & Music by Pierre Cour & Andre Popp
English lyric by Brian Blackburn
Recorded by Paul Mauriat, 1968

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Prá te fazer feliz




Você não sabe quanta coisa eu faria 
Além do que já fiz 
Você não sabe até onde eu chegaria 
Pra te fazer feliz 

 (...) 

 E ainda que a realidade me limite 
A fantasia dos meus sonhos me permite 
Que eu faça mais do que as loucuras 
Que já fiz pra te fazer feliz 

 (...) 

(c) Maria Bethânia

domingo, fevereiro 04, 2007

Achados e perdidos


Minha pintura não tem palavras: fica atrás do pensamento.



(c) Ana Vidigal 

Estou consciente de que tudo o que sei não posso dizer, 
só sei pintando ou pronunciando sílabas cegas de sentido. 
Escrevo-te em desordem, bem sei. 
Mas é como vivo. 
Eu só trabalho com achados e perdidos. 

(Clarisse Lispector)

sábado, fevereiro 03, 2007

Juro-te


Não acabarão com o amor, 
 nem as rusgas, nem a distância. 
 Está provado, pensado verificado. 
 Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos
 e faço o juramento: Amo firme fiel e verdadeiramente. 

 (MAIAKOVSKY)

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Cartão Postal

(Paraty)
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
(Ilhabela)
Fala que me ama
Só que é da boca prá fora...
(Maresias)
Ou você me engana
Ou não está madura
(Angra dos Reis)
Onde está você agora?
(Caetano Veloso , "sozinho")

domingo, janeiro 28, 2007

Vazio


No ponto onde o silêncio e a solidão 
Se cruzam com a noite e com o frio, 
Esperei como quem espera em vão, 
Tão nítido e preciso era o vazio. 

 (Sofia de Mello Breyner)

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Que mais quero?




Não sei se é amor que tens, 
ou amor que finges, 
O que me dás. 
Dás-mo. 
Tanto me basta. 

(Fernando Pessoa)

terça-feira, janeiro 23, 2007

Mas não imune à paixão




Meu amor... Estamos quase em Fevereiro, as amendoeiras não tarda nada estão em flor, vem comigo ao Algarve! Ficamos naquela pousada que tu gostas, lá prós lados da carrapateira, apanhamos o primeiro sol do ano na Praia do Amado, e ao fim do dia (ainda te lembras?), dois quilos de percebes em Vila do Bispo! Depois, encho-te de beijinhos e don rodrigos fresquinhos, o que me dizes? Não te esqueças dos teus cds, ou levas com o meu Keith Jarret o caminho todo. Prometo que dormes até tarde e não faço barulho de manhã, não tiro fotografias e não leio o jornal, fico contigo em silêncio e espero. Por ti, espero.
























Tudo aconteceu quando o Algarve era reinado por Ibne Almundim, poderoso entre os poderosos reis mouros. Mas não imune à paixão. Um dia, num grupo de prisioneiros de batalha, ele viu-a pela primeira vez Gilda, a princesa loura de olhos azuis, a Bela do Norte que desposou e libertou. E, todavia, ela definhava um pouco mais todos os dias, com saudades da neve que deixara para trás. Ibne Almundim percebeu que acabaria por perder Gilda e plantou no reino centenas de amendoeiras, que, na Primavera, rebentavam em flores brancas que substituíam a neve das terras nórdicas. E viveram felizes para sempre.