Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje
ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca,
só expressão dorida
de quem é como a morte
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece mais que o sentir-se noutro
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno
que nenhuma imagem jamais separará...
(c) Jorge de Sena, in Visão Perpétua
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