segunda-feira, abril 02, 2007

Quanta traição existe...



Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço 
em que de penetrar-te me senti perdido 
no ter-te para sempre 
Quanto de ter-te me possui em tudo o que eu deseje 
ou veja não pensando em ti no abraço a que me entrego 
Quanto de entrega é como um rosto aberto, 
sem olhos e sem boca, 
só expressão dorida de quem é como a morte 
Quanto de morte recebi de ti, 
na pura perda de possuir-te em vão de amor que nos traiu 
Quanta traição existe em possuir-se a gente 
sem conhecer que o corpo não conhece mais que o sentir-se noutro 
Quanto sentir-te e me sentires não foi senão o encontro eterno 
que nenhuma imagem jamais separará... 

(c) Jorge de Sena, in Visão Perpétua

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