domingo, janeiro 28, 2007

Vazio


No ponto onde o silêncio e a solidão 
Se cruzam com a noite e com o frio, 
Esperei como quem espera em vão, 
Tão nítido e preciso era o vazio. 

 (Sofia de Mello Breyner)

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Que mais quero?




Não sei se é amor que tens, 
ou amor que finges, 
O que me dás. 
Dás-mo. 
Tanto me basta. 

(Fernando Pessoa)

terça-feira, janeiro 23, 2007

Mas não imune à paixão




Meu amor... Estamos quase em Fevereiro, as amendoeiras não tarda nada estão em flor, vem comigo ao Algarve! Ficamos naquela pousada que tu gostas, lá prós lados da carrapateira, apanhamos o primeiro sol do ano na Praia do Amado, e ao fim do dia (ainda te lembras?), dois quilos de percebes em Vila do Bispo! Depois, encho-te de beijinhos e don rodrigos fresquinhos, o que me dizes? Não te esqueças dos teus cds, ou levas com o meu Keith Jarret o caminho todo. Prometo que dormes até tarde e não faço barulho de manhã, não tiro fotografias e não leio o jornal, fico contigo em silêncio e espero. Por ti, espero.
























Tudo aconteceu quando o Algarve era reinado por Ibne Almundim, poderoso entre os poderosos reis mouros. Mas não imune à paixão. Um dia, num grupo de prisioneiros de batalha, ele viu-a pela primeira vez Gilda, a princesa loura de olhos azuis, a Bela do Norte que desposou e libertou. E, todavia, ela definhava um pouco mais todos os dias, com saudades da neve que deixara para trás. Ibne Almundim percebeu que acabaria por perder Gilda e plantou no reino centenas de amendoeiras, que, na Primavera, rebentavam em flores brancas que substituíam a neve das terras nórdicas. E viveram felizes para sempre.

Pentimento


À medida que o tempo passa, a tinta velha numa tela muitas vezes torna-se transparente. Quando isso acontece, é possível ver, em algumas pinturas, as linhas originais: através de um vestido de mulher surge uma árvore, uma criança dá lugar a um cão e um grande barco já não está em mar aberto. A isso chama-se “Pentimento”, porque o pintor se arrependeu, mudou de ideia. Talvez pudesse dizer-se que a antiga concepção, substituída por uma imagem ulterior, é uma forma de ver, e ver de novo, mais tarde.


(Lilian Hellman)

domingo, janeiro 21, 2007

Je ne parlerai pas

Je ne parlerai pas,je ne penserai rien.
Mais un amour immense
entrera dans mon âme.

(Rimbaud in "Sensation" , 1870)

sábado, janeiro 20, 2007

Just the way you are

Don't go changing,
to try and please me
You never let me down before
Don't imagine you're too familiar
And I don't see you anymore
I wouldn't leave you in times of trouble
We never could have come this far
I took the good times, I'll take the bad times
I'll take you just the way you are


I need to know that you will always be
The same old someone that I knew
What will it take till you believe in me
The way that I believe in you
I said I love you and that's forever
And this I promise from the heart
I could not love you any better
I love you just the way you are.

(Billy Joel)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

A palavra é uma asa do silêncio


Saberás que não te amo e que te amo

pois que de dois modos é a vida,

a palavra é uma asa do silêncio,

o fogo tem a sua metade de frio

Eu amo-te para começar a amar-te,

para recomeçar o infinito

e não deixar de amar-te nunca:

por isso é que ainda não te amo.

Amo-te e não amo como se tivesse

nas minhas mãos a chave da fortuna

e um incerto destino infortunado.

Este amor tem duas vidas para amar-te.

Por isso amo-te quando não te amo

e por isso amo-te quando te amo.

(Pablo Neruda)

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Curiosity...

Curiosity kills the cat...

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Eros_1

Olha para mim e me ama.
Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.


Foto (c) Elena Vasilieva

Eros_2

O anel que tu me deste era de vidro e se quebrou e o amor acabou. Mas às vezes em seu lugar vem o belo ódio dos que se amaram e se entredevoraram.

Eros_3

Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então.


Foto (c) Anjel Burbano

Eros_4

Só no ato do amor – pela límpida abstração de estrela do que se sente – capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si. No amor o instante de impessoal jóia refulge no ar, glória estranha de corpo, matéria sensibilizada pelo arrepio de instantes.
(Clarisse Lispector, "EROS")

Fédon


Tudo quanto vive provém daquilo que morreu
(Platão)
Foto (c) Michael McCarthy

terça-feira, janeiro 16, 2007

Tks darling...


Quero agradecer-te imensamente, por tudo o que me deste.

Quero agradecer, por teres-me feito compreender o quanto (ou nada) significo para ti.

Quero agradecer, por teres-me feito (finalmente) compreender o papel que me reservaste na tua vida.

Quero, por fim, agradecer, por o teres feito de forma tão clara que não me deixa margem para dúvidas.

É verdade. Alimentei essa dúvida a partir do momento em que deixei de alimentar a esperança. Vivo disso, de alimentar sonhos.

Os sonhos, os meus e os teus, perderam-se num passado que já não volta e que, de tão distante, parece mesmo que nunca existiu para além do próprio sonho.

A esperança foi algo que ficou desse sonho, e me fez morrer um pouco a cada dia enquanto dava lugar à dúvida, que foi o que restou de nós.

Quem és tu afinal? De que matéria és feita? O que tens no lugar do coração?

Mas a maior de todas as dúvidas é minha, e só minha: onde está a mulher que me amou, onde está a mulher que eu amei?


Por favor, vai de uma vez por todas, peço-te como um último desejo. Não voltes para te abrigar, não voltes por conveniência, simplesmente não voltes.

Se precisares de mim, e sei que vais, pensa no meu pedido e num gesto de ternura, se fores capaz, não me procures e pensa em mim de uma forma boa.

Tu foste um equívoco, e eu equivoquei-me. Não faz mal, porque aprendi muito contigo.

Também por isso te agradeço, por tudo o que me ensinaste.

Um dia isso tinha que ter fim, e mais do que nunca agradeço por isso.

Respira de alívio, como eu respiro. Sinto-me livre e calma, por ter saído da pior das solidões, que foi ter-te ao meu lado.

Acabaram-se as chegadas e as partidas, e qualquer coisa de nada entre uma e outra.

Estou livre e calma. Esgotou-se o vazio em mim.

Deixa-me assim…

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Eu quero...

Tudo é meio complicado,

mas eu quero que você me entenda.

O que acontece aqui dentro já foi bom,

agora não é mais.

Numa tentativa de mudar as coisas,

vou beijar você, um beijo é bom mas eu quero mais!

O que eu quero é passear de mãos dadas no shopping.

Tomar um sorvete e assistir um filme da Júlia Roberts.

O que eu quero é acordar olhando pra você.

Passar o dia todo juntos vendo nada na TV.

Foto (c) Tanya Chalkin - Lyrics (c) VODKA FROG

...ser dois

Eu quero ser dois,
eu quero ser dois,
eu quero ser dois,
eu quero ser dois, com você!
Se você está dançando até parece
que a música foi feita pra você.
Se você dá um sorriso
eu percebo como é bom te ver.
Numa tentativa de mudar as coisas,
vou beijar você,
um beijo é bom mas eu quero mais!


Foto (c) Steven Underhill - Lyrics (c) VODKA FROG

com você!


Eu quero ser dois,
eu quero ser dois,
eu quero ser dois,

eu quero ser dois com você!

Eu quero ser dois,
eu quero ser dois,
eu quero ser dois,

Só quero ser dois,

com você,
com você,
com você,
com você!

(VODKA FROG - "Dois")

Quem és tu?

Quem és tu
Que voltas sempre
Quando já não te espero
Entras devagar no meu sono
Despertas o meu corpo inerte
Com as tuas mãos geladas
Das madrugadas de Janeiro
Quem és tu
Que invades os meus sentidos
Submersos na memória do teu corpo
Que te entregas sem êxtase
Cansada, rendida, sobrevivente
De outras madrugadas frias
Sem gestos de magia
Quem és tu
Que não te reconheço...?

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Secretamente

Foto (c) Lindsay Simpson

Seus olhos estão perigosamente dentro de mim

aqui fizeram morada e estão como Deus em toda parte

se interpondo entre a paisagem mais próxima

entre a fresta de luz e a imagem tangenciando meu olhar

que não sabe olhar puro

que se trai a cada segundo.

Seus olhos estão perigosamente pousados sobre mim

como borboleta em flor cobrindo minha pele

em ternuras suaves como seda a farfalhar sobre os poros e os pelos.

Luzes que incendeiam em sublime música meu corpo aceso em sede

Sombras sobre minha noite embalam meu sono devassando meus sonhos

onde secretamente me assombram estando fora e sendo dentro

espelhos de amor intenso e imenso.

Nossos olhos estão perigosamente em comunhão

a despeito da separaçãoque a vida nos impõe.

E nossas vidas sob risco entre sermos felizes ou tristes

e nossos destinos por um triz entre sucessos e desatinos.

Secretamente espreitamos-nos como caminhos

à beira de atraentes abismos.

(Virgínia Schell)

Preferi o vento


Parece divertido ficar aqui lhe esperando,
Você que não chega na hora marcada
E não há nada mais triste,
Inconfundivelmente chato,
Do que amar sem ser amada.
Por fim, eu lhe traí.
Preferi o vento
A este sentimento
Que menti
Ser sincero no momento...
(Marcela Bueno)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Palavras Inúteis



Se há palavras inúteis, são as que te dediquei a ti. Ridículas, porventura, como diria o poeta, mas sem dúvida inúteis. Como foi em vão o tempo que nos separou, e o encontro adiado, que o será para sempre, como se da nossa natureza se tratasse. Pensei que te procurava nos amores que tive, mas naquela tarde soube que nunca estarias presente em qualquer forma de amor, que não fosse a tua obcecada mania de mim, o teu medo de mim, a tua incapacidade de ser, simplesmente. A tua casa, minúscula, sem alma, como tu. Os teus silêncios, o teu olhar, sem brilho e sem lugar... Porque me tocas e esperas tanto? Queres a salvação que não te posso dar? É tarde minha querida, muito tarde para nós. Tudo o que te quis um dia encontrei noutras mãos, noutros lábios, noutro sono. Sobrou o meu cansaço nos teus braços, a tua mão no meu cabelo, a tua boca na minha. Eram braços e eram mãos e era tua a boca, mas não estavas lá. Algum dia estiveste?

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O fino traço da tua presença

Foto (c) Carlos Ramos
Como se desenhados
Tu
E o de dentro da casa.
Entro
Como se entrasse
No papel adentro
E sem ser vista
Rasgo
Alguns véus e fibras
Sem ser amada
Pertenço.
Que sobreviva
O fino traço da tua presença.
Aroma. Altura.
E lacerada eu mesma.
Que jamais se perceba
Umas gotas de sangue na gravura.

(Hilda Hilst)

terça-feira, janeiro 09, 2007

O halo das coisas



Photo (c) Francisco Neto


O que te escrevo não tem começo: é uma continuação. Das palavras deste canto que é meu e teu, evola-se um halo que transcende as frases, você sente? Minha experiência vem de que eu já consegui pintar o halo das coisas. O halo é mais importante que as coisas e as palavras. O halo é vertiginoso. Finco a palavra no vazio descampado: é uma palavra como fino bloco monolítico que projeta sombra. E é trombeta que anuncia.

(Clarisse Lispector)

domingo, janeiro 07, 2007

Queixa


Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água
Ondas, desejos de vingança
Dessa desnatureza
Bateu forte sem esperança
Contra a tua dureza
Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria
Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

(Caetano Veloso)

Falar de mim

Foto (c) Filipa César
Queres que fale de mim?
Eu sei, há tanto tempo que não sabes nada...
Queres que te conte como é a tua ausência?
Gostavas de saber como sou depois de ti?
Digo-te uma coisa, só uma: sobrevivi-te.
Não é esse o destino dos amantes,
Não é esse o nosso dom secreto?
Devias aprender comigo, o sorriso dos lábios
Os mesmos que ainda sentem o teu gosto
E que escancaram enquanto os olhos não disfarçam
O limbo de estar aqui
Queres que fale de mim?
Olha-me, antes, e em silêncio escuta-me
Sou eu ainda, enquanto tu já não és...

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Desperta-me De Noite

Photo (c) Andrea Franke

Desperta-me de noite o teu desejo
na vaga dos teus dedos com que vergas
o sono em que me deito
É rede a tua língua em sua teia
é vício as palavras com que falas
A trégua a entrega o disfarce
E lembras os meus ombros docemente
na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite com o teu corpo
tiras-me do sono onde resvalo
E eu pouco a pouco vou repelindo a noite
e tu dentro de mim vais descobrindo vales.

(Maria Tereza Horta)

Ternura



Foto (c) Luisa Ferreira


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[extático da aurora.


Vinicius de Moraes in “Poesia Completa e Prosa”

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Só o audaz abraço

Safo by Mengin
Não me mandes para o canto
Quando digo a palavra nuca chupo-te suavemente até afundar o dente aqui?
Acaso estou te tocando?
Quando digo bico do peito a mão roça as dilatadas rosas dos peitos teus?
Toco-te acaso?
Toca, língua, acaso o canto de meus lábios e aprisiona na vasta cavidade do corpo que deseja ser tocado e cingido por tua língua quando nomeia por minha boca a palavra língua, acaso?
Não me mandes para o canto
Não faças de mim a testemunha que se olha te tocando com palavras
É a mão nomeada não o nome que deseja aprisionar tuas nádegas
– Fala-me– Como será?– O quê?– Tua voz
Fogo oculto na madeira do fogo que se expande?
É assim que será? O corpo da tua voz no instante em que não me mandes para o canto
Flui mel das romãs
Não quero tocar um fantasma nem quero a fantasia cortês do trovador à sua dama
É a ti, minha amada áspero corpo da amiga que desejo
Gesto de mútua apropriação, instante onde não se sabe os limites do tu, do eu
O nome e o nomeado em tersa conjunção que sabe não durará
E sabe que é mais eterno que o gume de um diamante
Alegre relâmpago de garra e de mordedura animal
O mais belo de todos os instintos impera aqui
Sua voz não tem tradução
Verbal moeda de intercâmbio
Não
Só o audaz abraço, minha amiga,responde aqui

(Diana Belessi)