quinta-feira, julho 10, 2008

From Pangkor to Eden



Dizem que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes. Podia escrever a nossa história em ordem cronológica através dos hotéis onde nos amamos, do Porto Santo a Pangkor. Há algo impessoal e anónimo nos quartos de hotel bem arranjados e climatizados que me excita como se fosse a primeira vez. Talvez por isso trocamos sempre de hotel quando vou ter contigo ao rochedo. Talvez por nos sentirmos amantes fortuitos, como clandestinos de um navio em cruzeiro. Noites de calor entre paredes decoradas com gravuras em série, malas mal abertas e nós de passagem , ao som de hilariantes excertos musicais em jeito de trilha sonora. Loud and clear, intercalava a voz da telefonia ambiente na palafita sobre o Índico, enquanto a tempestade tropical jogava com as ondas ao ritmo dos nossos corpos encharcados. Ilhas de fantasia e de paixão nos cantos do mundo por onde nos deixamos, sabor dos teus beijos, cheiros e cores, promessas de eternidade esquecidas no check out. Sempre gostei de acordar ao teu lado, de me deixar estar quieta à espera que estendas o braço à minha procura antes de abrir os olhos. Sempre gostei de te amar de manhã, sem hora marcada. Sempre gostei dos quartos de hotel, lapsos do tempo em síntese de sonhos, onde jamais voltarei...

quarta-feira, julho 09, 2008

Et si c'ètait vrai



Sabes o que faço no Verão? Espero. O que? Não é essa a pergunta. Antes deves perguntar por quem. Agora sim, já te posso responder. Espero por impossíveis. Tu saberás quem traz em si a impossibilidade de me pertencer. Há quem acredite no Outono, há quem prefira a ternura, há ainda os que se refugiam em quases. Eu sou dos acreditam que nada é verdadeiramente impossível. Sou dos que esperam…

terça-feira, julho 08, 2008

Milesaway




Gosto dessa intimidade que nos liga. Dessa cumplicidade de quem se conhece na palavra e se descobre nos silêncios. Gosto da espera, e de uma certa alegria que me trouxeste. Gosto do meu riso dos teus disparates, do jogo e da apanhada. Gosto de madrugadas, de sardinhas assadas e de esplanadas no verão. Gosto de little jokes sem graça em português. Gosto do vento, que em ti é calmaria, e do mar, que em mim é ondulação. Gosto tanto de ti...

sábado, julho 05, 2008

No Lux às três





Como sempre atrasei-me. Saí do carro apressada a pensar numa boa desculpa para te deixar à espera, às voltas com o teu vodka tónico a querer esganar-me antes mesmo de me abraçar. Enquanto subia a correr as escadas que vão dar ao bar ocorreu-me dizer-te a verdade só para te irritar. Sorri quando te vi ao longe, estavas mais magra mas seria capaz de te reconhecer no meio de uma multidão. O mesmo jeito de segurar o cigarro, a mesma boquilha de prata, o mesmo ar de impaciência para as minhas aldrabices, como te referias às desculpas foleiras que eu inventava sem sucesso. Detestavas a falta de pontualidade, que para ti era o meu pior defeito entre tantos outros que te levaram a aceitar a proposta do banco e partir para o Rio. Segundo o teu diagnóstico eu não fui feita para viver com ninguém, já te estavas a passar! … De costas, à conversa com o empregado (sempre gostaste de homens bonitos), tentavas disfarçar a impaciência com aquele tique de levar as mãos ao cabelo, um pouco mais escuro, o ar de femme fatal, quem não o conheça que o compre, já incomodada por estar ali sozinha. Fui-me aproximando devagar, a admirar a tua lábia, nunca resististe a por “um homem à morte”, dizias a rir, entre o sádico e o debochado, como convém a quem lhes tem tamanha indiferença. Nunca cheguei a perceber bem o quid pro quo. Um antigo aluno cumprimenta-me com perguntas idiotas sobre cursos bolonheses e aquele nervoso miudinho ao sentir o teu perfume. Quando te voltaste, ao ouvir o teu nome, o tempo voltou dez anos atrás em slow motion e parou de repente, em pausa, naquele bar à esquerda, numa noite de verão como essa, quando nos vimos pela primeira vez. Quase não consegui controlar a vontade louca de te beijar em frente à toda a gente, mas apenas sorri. Faltavam-me as palavras para dizer fosse o que fosse. Ficamos assim paradas por um instante, como que a tomar fôlego para as cenas seguintes de um filme que já vimos, vira o disco e toca o mesmo não fora um oceano. Percebi que substituíste o vodka tónico por uma reles caipiroska. Uma escorregadela nos gerúndios denunciou o interregno tropical, mas eras tu, tão tu e eu de novo. Estivemos assim, a ver o rio, a beber caipiroskas e irish whiskeys em silêncio depois da conversa de circunstância, sem pressa de nos trocarmos uma à outra. Às três da manhã, pontualmente, apagaste o cigarro, arranjaste o cabelo com as mãos e olhaste-me como da primeira vez. Vamos?


quarta-feira, julho 02, 2008

Sweet Mystery of Life

Photo (c) Margarida Gouveia


Minha vida que parece muito calma 

Tem segredos que eu não posso revelar 

Escondidos bem no fundo da minha alma 

Não transparecem nem sequer em um olhar 

Vive sempre conversando a sós comigo 

Uma voz que eu escuto com fervor 

Escolheu meu coração para seu abrigo 

E dele fez um roseiral em flor 

A ninguém revelarei o meu segredo 

E nem direi quem é o meu Amor

terça-feira, julho 01, 2008

Nenhuma dor



Olha menina, não sejas tolinha… Deixa-te de poesias, um dia não são dias. Baixa as armas, não estejas sempre a bater. Sei que exagero, toda gente diz que um dia rebento de tanto querer. Não sabes de nada, não és para aqui chamada, andas entretida em caçadas, isso não vai dar em nada. Eu sou mesmo assim, demais por demais, dizes que sou muito centrada, que não presto atenção, não gosto da tua música e não acredito em ladrão. Podes crer, já vi esse filme, minha música é lenta, não sou nada cool… Deixa-te de poesias menina, vem comigo ao Guincho ver o pôr-do-sol. Chega mais perto, dá-me um beijinho e eu te faço carinho até anoitecer.