sexta-feira, abril 27, 2007

Doce presença



Sei que mudamos desde o dia em que nos vimos 
li nos teus olhos que escondiam meu destino luz tão intensa, 
a mais doce presença no universo desse meu olhar 
 nós descobrimos nossos sonhos esquecidos e aí ficamos 
cada vez mais parecidos mais convencidos, 
quanto tempo perdido no universo desse meu olhar 
como te perder ou tentar te esquecer 
ainda mais que agora sei que somos iguais 
e se duvidares, tens as minhas digitais 
como esse amor pode ter fim 
já tens meu corpo, minha alma, meus desejos 
se olhar pra ti, estou olhando para mim mesmo
fim da procura tenho fé na loucura 
de acreditar que sempre estás em mim 

 (Vítor Martins-Ivan Lins)

domingo, abril 22, 2007

Palabras




Esta noche al oído me has dicho dos palabras 
Comunes. 
Dos palabras cansadas 
De ser dichas. Palabras 
Que de viejas son nuevas. 
Dos palabras tan dulces que la luna que andaba 
Filtrando entre las rama 
Se detuvo en mi boca. 
Tan dulces dos palabras 
Que una hormiga pasea por mi cuello y no intento 
Moverme para echarla. 
Tan dulces dos palabras - Que digo sin quererlo - 
¡oh, qué bella, la vida!
Tan dulces y tan mansas 
Que aceites olorosos sobre el cuerpo derraman. 
Tan dulces y tan bellas 
Que nerviosos, mis dedos, 
Se mueven hacia el cielo imitando tijeras. 
Oh, mis dedos quisieran 
Cortar estrellas. 

 (Alfonsina Stormi)

sábado, abril 21, 2007

Prá lhe dizer que isso é pecado





Já conheço os passos dessa estrada 
Sei que não vai dar em nada
 Seus segredos sei de cor 
Já conheço as pedras do caminho 
E sei também que ali sozinho 
Eu vou ficar tanto pior 
O que é que eu posso contra o encanto 
Desse amor que eu nego tanto, evito tanto 
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar 
Com seus mesmos tristes velhos fatos 
Que num álbum de retrato eu teimo em colecionar 
Lá vou eu de novo feito um tolo, 
Procurar o desconsolo 
Que eu cansei de conhecer 
Novos dias tristes, 
Noites claras, versos, cartas 
Minha cara, ainda volto a lhe escrever 
Pra lhe dizer que isso é pecado 
Eu trago o peito tão marcado 
De lembranças do passado 
E você sabe a razão 
Vou colecionar mais um soneto 
Outro retrato em branco e preto 
A maltratar meu coração 

(c) Tom Jobim e Chico Buarque in "Retrato em Branco e Preto"

quarta-feira, abril 18, 2007

Perdoar e Esperar



Ainda em desamor, tempo de amor será. 
Seu tempo e contratempo. 
Nascendo espesso como um arvoredo 
E como tudo que nasce, morerendo à medida que o tempo nos desgasta. 
Amor, o que renasce. 
Voltando sempre. 
Docilmente sábio 
Porque na suavidade nos convence 
A perdoar e esperar. 
Em vida. Em paz. 

 (c) Hilda Hilst

segunda-feira, abril 02, 2007

Quanta traição existe...



Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço 
em que de penetrar-te me senti perdido 
no ter-te para sempre 
Quanto de ter-te me possui em tudo o que eu deseje 
ou veja não pensando em ti no abraço a que me entrego 
Quanto de entrega é como um rosto aberto, 
sem olhos e sem boca, 
só expressão dorida de quem é como a morte 
Quanto de morte recebi de ti, 
na pura perda de possuir-te em vão de amor que nos traiu 
Quanta traição existe em possuir-se a gente 
sem conhecer que o corpo não conhece mais que o sentir-se noutro 
Quanto sentir-te e me sentires não foi senão o encontro eterno 
que nenhuma imagem jamais separará... 

(c) Jorge de Sena, in Visão Perpétua