quarta-feira, janeiro 03, 2007

Só o audaz abraço

Safo by Mengin
Não me mandes para o canto
Quando digo a palavra nuca chupo-te suavemente até afundar o dente aqui?
Acaso estou te tocando?
Quando digo bico do peito a mão roça as dilatadas rosas dos peitos teus?
Toco-te acaso?
Toca, língua, acaso o canto de meus lábios e aprisiona na vasta cavidade do corpo que deseja ser tocado e cingido por tua língua quando nomeia por minha boca a palavra língua, acaso?
Não me mandes para o canto
Não faças de mim a testemunha que se olha te tocando com palavras
É a mão nomeada não o nome que deseja aprisionar tuas nádegas
– Fala-me– Como será?– O quê?– Tua voz
Fogo oculto na madeira do fogo que se expande?
É assim que será? O corpo da tua voz no instante em que não me mandes para o canto
Flui mel das romãs
Não quero tocar um fantasma nem quero a fantasia cortês do trovador à sua dama
É a ti, minha amada áspero corpo da amiga que desejo
Gesto de mútua apropriação, instante onde não se sabe os limites do tu, do eu
O nome e o nomeado em tersa conjunção que sabe não durará
E sabe que é mais eterno que o gume de um diamante
Alegre relâmpago de garra e de mordedura animal
O mais belo de todos os instintos impera aqui
Sua voz não tem tradução
Verbal moeda de intercâmbio
Não
Só o audaz abraço, minha amiga,responde aqui

(Diana Belessi)

2 comentários:

SMA disse...

Muito bem...
Gostei muito do teu blog! Agora a que não deixar morrer...
Precisa de algumas afinações e está lá.
Ai... esta transformação de afectos...

Muitos bjs

MM disse...

Espero que a tua "presença" seja uma constante, e que as tuas críticas e sugestões também, para que o blog vá se tornando, aos poucos, num verdadeiro espaço de afectos e de encontros. Obrigada!