sexta-feira, maio 23, 2008

Para sempre

Photo (c) Manolo Martin


Às cinco horas da manhã acordei com o frio do teu corpo encostado ao meu, e um suave arrepio na nuca à medida que deslizavas a tua língua à procura da minha. De costas voltadas abri os olhos, e sem um único movimento parei o olhar na luz do candeeiro da rua, que espreitava, tremula, entre as frestas da janela, deixando um rasto prateado no chão de madeira. O teu perfume misturava-se com o hálito quente e embriagado das palavras sem nexo que sussurravas ao meu ouvido enquanto esperavas pelo meu gesto, que conhecias de cor. Voltei a fechar os olhos e num movimento lento dei-te o espaço que pedias entre o meu corpo e as tuas mãos, deslizando a minha boca entre os teus seios, aprisionada pelo teu desejo. A luz que trespassava a janela tornou-se mais intensa e a tua respiração húmida invadiu a minha pele com gemidos exaustos, até me libertares do teu delírio numa vertigem silenciosa. Quando finalmente adormeceste o candeeiro já se tinha apagado, dando lugar aos primeiros raios de sol. Olhei para ti antes de fechar a janela, e na imagem do teu sono tinhas o rosto iluminado. Como uma fotografia, procurei o teu melhor ângulo, afastei os cabelos que escondiam os teus lábios, e guardei-te naquele instante. Para sempre.


4 comentários:

angelá disse...

:)Curioso! Digamos que ontem escrevi algo semelhante.
MUITO BONITO, LDF!

beijo

MM disse...

Huumm.. Algo semelhante?.. E onde esconde essas "confissões" secretas?:))

angelá disse...

para já estão no disco duro do pc:))))

MM disse...

E quando é que saltam cá prá fora?!