terça-feira, maio 13, 2008

Blind Date



As pessoas já não são como no meu tempo… Quando saíamos à noite a preparação era uma espécie de ritual de acasalamento, onde tudo era cuidadosamente pensado, não fosse aquela ser “a” noite onde, quem sabe, iríamos encontrar o amor das nossas vidas…. Normalmente tudo começava com um jantar no Pap’açorda, seguido do religioso copo no Frágil, até serem horas da comunidade subir em apoteose a Rua da Imprensa Nacional (nunca antes das 2 da manhã), onde a Rosa Maria esperava-nos com ares de preceptora. Do porteiro ao barman toda gente se conhecia e se tratava por tu, entre beijos na boca e bons-dias do Pedro Lata, uísques, vodcas e um cheirinho de coca misturado com mil perfumes, suor e fumo, tudo embalado pelo génio musical do João Vaz, olhares de soslaio, engates furtivos, rapidinhas nas casas de banho e muita risada embriagada, até a Grace Jones mandar-nos embora ao som do la vie en rose anunciando a madrugada. Última dança, abraços anónimos, luzes a acender. Novas paixões e velhos casais à porta das padarias à espera de papos-secos quentinhos antes de caírem nos braços uns dos outros, exaustos de prazer, já quase de manhã. No meu tempo não havia carjacking nem blind dates, eu era feliz, e ninguém estava morto…




5 comentários:

SMA disse...

Essa originalidade tanta para depois acabar com a la vie en rose da Grace Jones... hoje é mais os originais, edith Piaf, por favor...

Adoro essa expressão "no meu tempo"... este ja não é teu?! Realmente, morresse mesmo quando parentemente estamos vivas... estás tão portuguesa que ja vives a nostalgia do passado... risos

Preciso de um favorzinho

risos
risos
risos

MM disse...

Presença... tanta pressa a responder que dás coices na gramática (e na ortografia! Vê lá que ainda pensam que a brasileira és tu). Esse tempo em que vivemos também é meu, mas aquele a que me refiro, se calhar não eras nascida. Daí que os dias que correm são, de facto, o "nosso tempo", mas aquele, deixa-me chamar "meu". Foram muito bem vividos, e ao menos isso já ninguém me tira!
Bjs.
PS: Ainda prefiro a Garce Jones.

angelá disse...

Voltarei, sim, Luz. Mas quanto aos milagres, não se trata de não deixar de acreditar... é que nunca acreditei mesmo. Apenas em coincidências que aceito sem explicações.
É muito bom um tempo "nosso"/"meu" que também é bom partilhar com que o não conheceu e não tem outra forma de conhecer se nós não falarmos dele.
Gostei desta viagem no passado.

Helena disse...

eu não sou desse tempo, sou de outro mais recente, mas mesmo assim confesso que a boémia já não é como era antes. Seja que tempo for esse antes.

Bjs e parabéns pelo bonito blog
Druiel

MM disse...

Druiel, obrigada pela passagem pelo blog. Sabe que o "antes" não é tão distante assim, e se calhar até sabe bem do que estou a falar. Há coisas intemporais, e essas acredito que permaneçam com as pessoas. As que sobreviveram, quando as encontramos por aí, à parte mais ou menos cabelos brancos, têm o mesmo brilho nos olhos. É disso que sinto falta.