sábado, julho 05, 2008

No Lux às três





Como sempre atrasei-me. Saí do carro apressada a pensar numa boa desculpa para te deixar à espera, às voltas com o teu vodka tónico a querer esganar-me antes mesmo de me abraçar. Enquanto subia a correr as escadas que vão dar ao bar ocorreu-me dizer-te a verdade só para te irritar. Sorri quando te vi ao longe, estavas mais magra mas seria capaz de te reconhecer no meio de uma multidão. O mesmo jeito de segurar o cigarro, a mesma boquilha de prata, o mesmo ar de impaciência para as minhas aldrabices, como te referias às desculpas foleiras que eu inventava sem sucesso. Detestavas a falta de pontualidade, que para ti era o meu pior defeito entre tantos outros que te levaram a aceitar a proposta do banco e partir para o Rio. Segundo o teu diagnóstico eu não fui feita para viver com ninguém, já te estavas a passar! … De costas, à conversa com o empregado (sempre gostaste de homens bonitos), tentavas disfarçar a impaciência com aquele tique de levar as mãos ao cabelo, um pouco mais escuro, o ar de femme fatal, quem não o conheça que o compre, já incomodada por estar ali sozinha. Fui-me aproximando devagar, a admirar a tua lábia, nunca resististe a por “um homem à morte”, dizias a rir, entre o sádico e o debochado, como convém a quem lhes tem tamanha indiferença. Nunca cheguei a perceber bem o quid pro quo. Um antigo aluno cumprimenta-me com perguntas idiotas sobre cursos bolonheses e aquele nervoso miudinho ao sentir o teu perfume. Quando te voltaste, ao ouvir o teu nome, o tempo voltou dez anos atrás em slow motion e parou de repente, em pausa, naquele bar à esquerda, numa noite de verão como essa, quando nos vimos pela primeira vez. Quase não consegui controlar a vontade louca de te beijar em frente à toda a gente, mas apenas sorri. Faltavam-me as palavras para dizer fosse o que fosse. Ficamos assim paradas por um instante, como que a tomar fôlego para as cenas seguintes de um filme que já vimos, vira o disco e toca o mesmo não fora um oceano. Percebi que substituíste o vodka tónico por uma reles caipiroska. Uma escorregadela nos gerúndios denunciou o interregno tropical, mas eras tu, tão tu e eu de novo. Estivemos assim, a ver o rio, a beber caipiroskas e irish whiskeys em silêncio depois da conversa de circunstância, sem pressa de nos trocarmos uma à outra. Às três da manhã, pontualmente, apagaste o cigarro, arranjaste o cabelo com as mãos e olhaste-me como da primeira vez. Vamos?


25 comentários:

angelá disse...

This is beautiful...

Beijo

MM disse...

Love is such an easy game to play...

Bjo.

Anónimo disse...

A amfm está cheia de razão. Não tenho nada a acrescentar, é lindo!
:-)

bjs,
Filipa

angelá disse...

I was talking about the text...
Quanto ao Love,... eu não gosto de jogos e isso tem-se revelado uma chatice, mas burro velho não aprende línguas...:)
Sobre o assunto, qd tiveres tempo, vai lá ao meu sítio ouvir a Julia Kristeva.

Beijo e bom fds
ângela

MM disse...

Eu sei que estavas, aliás és sempre a primeira a dizer bom dia.
---
Os jogos existem sempre, quer queiramos, quer não, o que não implica em gostar de jogar. Às vezes são engraçados, às vezes servem para picar, mas também podem ser perigosos. Como em (quase) tudo na vida, é uma questão de medir os riscos.
---
Esse fds não tem praia nem leituras, é só trabalho...:(
Vou tentar um break para a Kristeva.

Beijos,
Luz

MM disse...

Welcome back Filipa,

Thanks Miles! ;)

Bjs,

Luz

Milesaway disse...

A Miles foi até à esplanada, construir o sujeito por oposição a um pratinho de caracois... :-)
bjs,
MA

PS: cumprimentos à Julia

MM disse...

Então, mas eu disse que ia lá ter, realmente!... Chego lá e já se foram os caracóis.

Bjs,
Luz

ps: a Júlia foi à terra, agora só prá semana.

Anónimo disse...

Bem, se a Júlia não está disponível (naturalmente foi jantar com o Roland), aparece onde se faz farinha! Tenho a certeza que ela espera por ti.
;-)

Anónimo disse...

Agora que penso nisso, o Roland se calhar já morreu... na volta foi mesmo à terra...

MM disse...

Hummm... Ou é do adiantado da hora ou é dos copos a mais, mas não faço a mínima ideia do que estás a falar, acho que vou dormir...
Bjs,
Luz

ps: preciso de uma água das pedras. By the way, quem é Júlia?

angelá disse...

............

angelá disse...

o comtentário anterior não é para me encarneirar nos pós modernos que por aí pululam, mas não conseguia postar. e eu ia esclarecer a história da Júlia mas já perdi a paciência... desculpa.
Espero que o soninho te tenha feito bem.
Beijos

MM disse...

Bom dia querida! LOL!!!:)))

Onde está o teu senso de humor?

O soninho caiu-me que nem ginjas!

Beijos,
Luz

ps: já lá fui, ah, amor, paixão, eu sei lá.. blá, blá, blá, ainda é cedo, olha, vai um ristreto?

angelá disse...

Já foi o ristretto, agora mesmo. Ónpá o meu sentido de humor foi-se quando acordei e pus o nariz lá fora:.........um frio do caraças!!!!!!!! Porra. Eu só queria ir direitinha para a praia e estou aqui:(...
ai, ai... tou farta!

beijo

angelá disse...

Depois do ristretto e tudo o mais já deves ter percebido quem era a Julia, mas eu tinha tentado pôr as tuas jovens amigas a par da questão. A Júlia é a Kristeva, como já debves ter percebido e o Roland é o Barthes, que já morreu, e com quel a Júlia poderia ter ido jantar, sim senhora, mas só isso. Porque a relação dela é com o Sollers. Até poderia ter tido algo com o Barthes, não fosse este pertencer àquele grupo imundo, sg a nossa Manuela Ferreira Leite, de homossexuais a abater.
Pronto. Era isto...

Bjs

angelá disse...

ups...apanhei-te:))))))))

Milesaway disse...

Luz,
Não era minha intenção deixar-te à deriva... sorry. Mas suponho que depois de uma água das pedras tudo esteja agora mais claro.

amfm,
LOL!
Haverá na vida coisas piores que ser um(a) pós-moderno(a)... olha, estar vento quado se quer ir para a praia, por exemplo! ;-)
hehehe

bj,
MA

MM disse...

Queridas, entendam-se!

Angela, tens que ler a coluna da Fernanda Câncio que a Filipa levou à esplanada (ao sul do cabo da roca o vento sopra de oeste a 15,5 Km/h).

Bj.
------------------------

Miles,

Ainda custei a adormecer a pensar na Julia, mas quando me lembrei que o Roland já foi desta para a outra fiquei mais descansada. Pobre Sollers, não há o direito!

Bj.

--------------------------
PS(a ambas): não imaginam do que a água das pedras é capaz!

Milesaway disse...

Peço desculpa por qualquer mal-entendido que tenha gerado. O hipotético jantar era apenas uma piada que, independentemente de ter tido graça ou não, não tinha como objectivo lançar qualquer boato sobre a intimidade alheia.

MM disse...

Hi Miles! Hoje estás a mil!..
Não penses que te safas com essa do mal-entendido. Se a Julia lhe passa pela cabeça!:)))

Bjos,

Luz

angelá disse...

Resumindo: Lux até às
3h+copos+vento=desatino total...LOL

MM disse...

Angela querida,

Assim é, assim é... São os ares da mouraria em tempo de estio:))

Love is in the air!

Beijo gde,

Luz

Unknown disse...

Gostei do texto..das palvras..dos sonhos...encontros e desencontos...
um abraço
tulipa

MM disse...

E eu... Coincidência à parte, adoro tulipas!

Beijos,
Luz

Seja bem-vinda!