
Dizem que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes. Podia escrever a nossa história em ordem cronológica através dos hotéis onde nos amamos, do Porto Santo a Pangkor. Há algo impessoal e anónimo nos quartos de hotel bem arranjados e climatizados que me excita como se fosse a primeira vez. Talvez por isso trocamos sempre de hotel quando vou ter contigo ao rochedo. Talvez por nos sentirmos amantes fortuitos, como clandestinos de um navio em cruzeiro. Noites de calor entre paredes decoradas com gravuras em série, malas mal abertas e nós de passagem , ao som de hilariantes excertos musicais em jeito de trilha sonora. Loud and clear, intercalava a voz da telefonia ambiente na palafita sobre o Índico, enquanto a tempestade tropical jogava com as ondas ao ritmo dos nossos corpos encharcados. Ilhas de fantasia e de paixão nos cantos do mundo por onde nos deixamos, sabor dos teus beijos, cheiros e cores, promessas de eternidade esquecidas no check out. Sempre gostei de acordar ao teu lado, de me deixar estar quieta à espera que estendas o braço à minha procura antes de abrir os olhos. Sempre gostei de te amar de manhã, sem hora marcada. Sempre gostei dos quartos de hotel, lapsos do tempo em síntese de sonhos, onde jamais voltarei...